sexta-feira, dezembro 18, 2009

A Nova Edição de "O Caçador" ou Minha Versão da História de Branca de Neve e o Caçador



Pessoas Queridas,

O último post de 2009 tinha que ser especial!

Depois de muitas idas e vindas – mudanças de revisor, de ilustrador, adequação à nova ortografia – meu livro “O Caçador” acaba de sair, republicado pela Editora Franco, de Juiz de Fora (MG). Estou muito feliz com isso, porque, embora o livro tenha tido um êxito razoável em sua versão independente, a nova edição me dará a oportunidade de divulgar, de forma mais ampla, esse meu primeiro trabalho de ficção.

Para quem não sabe, “O Caçador” é um livro de fantasia baseado no universo dos contos de fadas, que acompanha a trajetória de um personagem – injustamente, a meu ver – tratado como secundário: aquele a quem uma rainha invejosa encomendou a morte da bela enteada. Sabe-se o que aconteceu depois com a moça, mas e o caçador? Foi preso pela rainha, para não deixar pistas do crime? Voltou para a floresta? Ou partiu em busca de outros caminhos?

É essa a história que eu conto no livro e que gostaria de partilhar, tanto com o pessoal mais novo – a indicação é a partir dos 12 anos – quanto com adultos que gostem de fantasia e de uma boa narrativa.

“O Caçador” tem 100 páginas e um preço de capa bem acessível: R$ 22,00. Se alguém quiser adquirir a obra, indicar uma escola para receber material informativo ou – uma coisa importante, que desde já agradeço – dar uma força na divulgação, repassando a notícia do livro a quem possa se interessar, é só visitar o site da editora. Para comprar online, clique aqui ou encomende na
Livraria Saraiva.

.......

Então, Pessoas... Por este ano, é só. Os posts não foram muitos, mas as novidades sim, como eu espero que vocês tenham percebido.

E em 2010 tem mais. Com garra, fé e sorte – além, é claro, de uma ajudinha dos amigos.

Até lá,

Tudo de bom e um grande abraço!

Ana

quarta-feira, novembro 11, 2009

Uma Versão Diferente da Cinderela



Pessoas Queridas,

Como devem saber, todos os povos possuem suas narrativas tradicionais, muitas das quais se assemelham a outras de diferentes origens, ainda que não tenha havido contato entre as culturas. Isso se dá, segundo a teoria arquetípica, porque essas narrativas ancestrais fazem parte do inconsciente coletivo; seus personagens não são indivíduos, mas figuras míticas que existem universalmente. Assim, em várias partes do mundo encontramos narrativas cujos personagens e motivo central são semelhantes entre si, embora as circunstâncias variem de acordo com a cultura que produziu cada uma das versões.

A história da Cinderela tem mais de 300 variantes, desde a chinesa (na qual, um narrador me disse uma vez, o sapatinho é de palha) até a “Maria Borralheira” de Sílvio Romero. A que vou contar agora vem do povo Algonquino, uma nação que se estende pela costa oeste da América do Norte, desde Vancouver, no Canadá, até a Califórnia, nos Estados Unidos. O texto foi adaptado por mim do livro “O Violino Cigano”, de Regina Machado (Cia. das Letras, 2004), que por sua vez a retirou de “World Tales”, de Idries Shah. Mais uma prova de como as histórias se transmitem como numa teia... e como nós, os contadores, não resistimos a acrescentar mais um fio.

Então, com vocês...

OOCHIGEASKW, UMA CINDERELA ALGONQUINA

Numa aldeia Micmac, à beira de um grande lago, vivia um viúvo com suas três filhas. A mais velha era vaidosa e impaciente; a segunda, preguiçosa e rabugenta; a terceira, humilde e de bom coração. Suas irmãs a maltratavam o tempo todo, obrigando-a a fazer o trabalho pesado e a cuidar do fogo. Às vezes, a mais velha a queimava com cinza quente, o que a deixou com tantas cicatrizes que passou a ser chamada Oochigeaskw, a menina do rosto marcado.

Na fronteira dessa aldeia viviam dois irmãos, um rapaz e uma moça. Eles não chamariam a atenção de ninguém, se não fosse por um detalhe: o rapaz era invisível aos olhos de todos, a não ser os da irmã. E todos sabiam que, se um dia alguma jovem pudesse vê-lo, casaria com ele... o que todas, levadas pela curiosidade e pela fascinação, gostariam de fazer.

Uma a uma, as jovens da aldeia se submetiam à prova estabelecida pelo rapaz, indo ao encontro da irmã dele e passeando com ela à beira do lago. Em dado momento, a irmã do rapaz invisível parava e indagava se a amiga estava vendo seu irmão, e, caso a resposta fosse afirmativa, perguntava de que era feita a corda de seu arco e com o que ele puxava seu trenó.

Sem poder vê-lo, as jovens arriscavam respostas. “A corda é feita de couro cru”, diziam, ou ainda, “Ele puxa o trenó com um galho flexível de árvore”. A irmã percebia que as moças tentavam enganá-la, mas mesmo assim as convidava à sua tenda, onde servia ao irmão alimentos que, pouco a pouco, iam desaparecendo, sem que as convidadas pudessem ver quem comia. Por fim, as jovens desistiam de ver o que quer que fosse e voltavam para casa.

Certo dia, as irmãs de Oochigeaskw resolveram tentar a sorte, mas não quiseram levar a mais nova, a quem deixaram com serviço dobrado para fazer enquanto estivessem fora. No fundo, elas não acreditavam poder ver o rapaz invisível, mas tinham esperanças de que ele se deixaria seduzir por sua beleza. O rapaz e sua irmã, contudo, se portaram exatamente como das outras vezes, e as duas voltaram para casa sem nada ter conseguido.

No dia seguinte, o pai delas chegou com uma porção de conchinhas muito bonitas, que as filhas mais velhas pegaram para si. Enquanto isso, Oochigeaskw, que sempre andara descalça, pediu e obteve do pai um velho par de mocassins, e depois foi à floresta e arrancou cascas de bétula, com as quais fez um vestido. Ao retornar, pediu conchinhas às irmãs para adorná-lo. A mais velha não a atendeu, mas a segunda ficou com pena e lhe deu algumas conchinhas. Oochigeaskw enfeitou seu vestido com elas, conforme aprendera com seus ancestrais, calçou os mocassins do pai e saiu para também tentar a sorte com o ser invisível, embora as outras moças tentassem impedi-la, dizendo que era tão feia que nem seria recebida pela irmã do rapaz.

De fato, com a estranha roupa de casca de árvore, os velhos mocassins e o rosto coberto de cicatrizes, Oochigeaskw não era atraente. Mas a irmã do ser invisível, que enxergava além das aparências, a recebeu com um sorriso e a levou para caminhar à margem do lago.

- Você pode ver meu irmão chegar? – perguntou ela, de repente.
- Sim, e ele é muito belo – disse Oochigeaskw.
- De que é feita a corda do seu trenó?
- Do arco-íris.
- E a corda do seu arco?
- São as estrelas da Via Láctea – murmurou a moça.
- Eu sabia desde o início que você o veria! – exclamou a irmã, feliz. – Venha, vamos para casa esperá-lo.

Ao entrar na tenda, a irmã preparou um banho com raízes perfumadas para Oochigeaskw. Enquanto a banhava, suas cicatrizes iam desaparecendo e seu cabelo se tornando espesso e brilhante. A irmã a penteou e depois a vestiu com um lindo vestido de casamento, bordado em conchinhas dispostas em desenhos, como faziam os antepassados. Então, disse-lhe para sentar no lugar reservado àquela que seria a esposa de seu irmão.

Quando ele, belo e forte, entrou na tenda, viu a jovem que o esperava e perguntou:

- Já não nos vimos antes?
- Sim, hoje, no final da tarde – respondeu ela, os olhos brilhando como estrelas.

E, desse dia em diante, Oochigeaskw, a menina do rosto marcado, ficou na memória de seu povo como a mulher do ser invisível... Aquela que soube ver.

(Publicado neste blog em 2004. Porque recordar é viver.;) )

Ilustração da artista norte-americana Doranna,

sábado, outubro 31, 2009

As Origens do Halloween



O Halloween tem origem na Irlanda celta, onde, por volta do século V antes de Cristo, o Verão terminava oficialmente a 31 de Outubro. O feriado era chamado sow-em, ou Samhain, e correspondia ao Ano Novo dos Celtas. Nesse dia, acreditava-se que os espíritos dos mortos voltavam em busca de corpos que pudessem ocupar durante o ano seguinte. Não querendo (compreensivelmente) abrir mão dos seus, os aldeões apagavam o fogo em suas casas – a fim de torná-las frias e pouco acolhedoras – e se vestiam, eles mesmos, como seres maléficos, que faziam ruídos terríveis, na tentativa de desencorajar o ataque dos fantasmas.

Os romanos que ocuparam o território celta adotaram as práticas, mas, no primeiro século de nossa era, o Samhain foi integrado às celebrações em honra de Pomona, a deusa latina dos pomares e colheitas. Mais tarde, quando o mundo romano se tornou cristão, os festejos se incorporaram aos ritos populares ligados ao Dia de Todos os Santos, em Inglês All Hollows Day, cuja véspera – All Hollows Eve, de onde vem o termo Halloween – era tradicionalmente o dia em que os mortos e as bruxas ficavam à solta.

A prática do “trick or treat” que vemos (já bastante edulcorada) nos filmes americanos vem de uma tradição que remonta ao século IX, chamada souling nas Ilhas Britânicas. De acordo com essa tradição, na noite de Halloween os jovens percorriam as casas de sua cidade ou aldeia pedindo contribuições – dinheiro, mas principalmente tortas e bolos – em troca das quais rezariam em intenção das almas dos mortos. O costume de se vingar dos que se negassem a contribuir deve ter surgido quase simultaneamente – e, conhecendo a cultura medieval, pode-se imaginar a que tipo de “travessura” estavam sujeitos os incautos que ousassem desafiar os jovens bruxos e duendes! ;)

Já o Jack O´Lantern – ou Jack da Lanterna – pertence originalmente ao folclore irlandês. Trata-se de um espertalhão que, tendo conseguido enganar o Diabo, não foi por este admitido no Inferno quando morreu, mas que também não tinha merecimento suficiente para entrar no Paraíso. Assim, ele é obrigado a vagar entre os dois mundos, iluminando seu caminho com uma brasa. Para que ela não se apague, Jack a carrega dentro de um nabo. Sim, isso mesmo: um nabo, não uma abóbora. A abóbora foi uma adaptação feita por aqueles irlandeses que, durante a Fome da Batata (por volta de 1840), migraram para a América do Norte, ali introduzindo o Halloween... que ganhou contornos locais, entre os quais a substituição do nabo pela abóbora nativa.

Pois agora, muitos anos depois, o Halloween começou a ganhar força aqui no Brasil, embora (que eu saiba) as crianças ainda não estejam pedindo doces de porta em porta. A festa é denunciada pelos defensores mais radicais da cultura nacional como mais um produto do colonialismo norte-americano, mas alguns grupos preferiram dar um "jeitinho brasileiro" e organizam o “raluim caipira”, com abóbora e carne-seca no cardápio e tendo como símbolo o Saci-Pererê. Pessoalmente, não vejo problema algum em adotarmos o Halloween, pois ele não é uma "tradição americana”: tem suas raízes na mesma cultura mista, pagã e cristã, que celebra juntos o nascimento de Jesus e o Solstício de Inverno. É verdade que o Natal já era comemorado pelos portugueses quando vieram para o Brasil, mas outros símbolos natalinos, bem posteriores, foram adotados aqui, tais como a árvore de Natal, que veio com os colonos alemães no século XIX (quem lembra das críticas feitas pelo povo de Santa Fé em “Um Certo Capitão Rodrigo”, que preferia o presépio por ser “mais nosso e mais bonito”?) e a figura de São Nicolau, depois transformado em Papai Noel e popularizado através dos slogans de uma conhecida marca de refrigerante.

Pois a substituição do Jack Lanterna pelo Saci Pererê me parece tão forçada quanto a idéia de Monteiro Lobato de colocar, no lugar do Papai Noel, um Vovô Índio. Isso aconteceu na década de 30 e tinha o mesmo pretexto de valorizar a cultura nacional. No entanto, o Halloween começou a ser comemorado aqui exatamente como, há menos de dois séculos, passou-se a comemorar um Natal com características da Europa do Norte: nos lugares onde se tinha mais contato com a cultura estrangeira. Naquele caso, eram as colônias, neste foram as escolas americanas e os cursos de Inglês. E, é claro... hoje, os meios de propagação são muito mais rápidos.

Que a data tenha se espalhado por outras escolas, outros jovens, outras famílias e grupos sociais não é de se estranhar. Todo mundo gosta de uma festa a fantasia. Além disso, as bruxas de chapéu pontudo, os vampiros, os monstros do Halloween americano podem ter chegado aqui no século XX, mas não chegaram com a globalização. Todos temos referências deles através do cinema e da Literatura, e, em nosso imaginário, já começaram a se confundir com as bruxas e duendes do nosso próprio folclore. Porque eles existem, ah...! Isso é que existem...

Assim, querer “erradicar” o Halloween do Brasil ou pretender que se pode festejá-lo deixando de lado qualquer influência estrangeira é querer deter um processo de assimilação que, bom ou mau, a essa altura me parece irreversível. Bem melhor, a meu ver, será abrir o círculo, contribuindo para a criação de uma nova festa, na qual estaremos integrados e não aculturados.

Um Halloween urbano e caboclo, com tudo que temos direito.

Uma festa de pagãos e cristãos, com vampiro, lobisomem e saci-pererê.

.....

Abraços, doces e travessuras a todos!

Até a próxima!

Ana Lúcia

Publicado originalmente a 27/10/2004. Reduza! Recicle! Reaproveite!

domingo, outubro 25, 2009

Coleção Imaginários




Pessoas Queridas,

Livro ImagináriosHá pouco tempo eu prometi novidades e aqui vai uma delas!

No final de novembro serão lançados os dois primeiros volumes da Coleção Imaginários, da Editora Draco, de São Paulo. Trata-se de uma coleção reunindo autores contemporâneos de horror, fantasia e ficção científica.

O projeto começou há cerca de dois anos, tendo como organizadores Eric Novello, Saint-Clair Stockler e Tibor Moricz. Desde o início combinou-se que seriam vinte os autores, mas a antologia sairia em princípio num só volume. Tempo entra, tempo sai... houve substituições no time de escritores, a editora com quem pensávamos em publicar acabou por não ficar com o projeto, mas depois de mil peripécias tudo acabou bem.

Acabou? Ainda não, pois falta o lançamento - que será no dia 28 de novembro de 2009, a partir das 16 horas, na Livraria Cultura do Shopping Market Place, em São Paulo. Eu estarei lá, participando da mesa-redonda e autografando a obra, com muito carinho, para os amigos que puderem comparecer!

E, quer possam quer não... dêem uma olhada no site da Editora Draco e conheçam melhor a Coleção Imaginários. Garanto que vale a pena!

Abraços a todos,

Ana

sábado, outubro 10, 2009

O Novo Curso no PROLER

Pessoas Queridas,

Apesar das objeções e adiamentos, apesar da chuva, comecei ontem a dar o curso na sede do PROLER: Literatura Fantástica para Mediadores de Leitura. O objetivo é dar a conhecer a essas pessoas – professores, bibliotecários e idealistas em geral – as noções mais básicas acerca da Literatura Fantástica em suas várias vertentes, com destaque para a especulativa, que engloba a fantasia, o horror e a ficção científica.

Um curso como esse tem sua razão de ser porque – e aí não sou eu que digo: são os estudiosos das práticas leitoras, os acadêmicos - a mediação da leitura, no Brasil, costuma se dirigir somente às crianças, sem que haja uma preocupação em adequar as narrativas e as atividades propostas a um público um pouco mais velho. Ao mesmo tempo, o interesse dos adolescentes por livros como os de Harry Potter ou da série Crepúsculo não é aproveitado como ponto de partida para ampliar seus horizontes literários, seja pelo desconhecimento, por parte dos mediadores, das obras do gênero, seja porque este é considerado uma literatura “menor”, que não se presta à reflexão e ao questionamento esperado. E aí... Já se sabe, é mais fácil continuar a lhes impor os clássicos da literatura brasileira!

Para mostrar aos mediadores a existência de uma alternativa – não excludente, é claro, mas que possa se somar às ferramentas que já possuem – comecei por debater com eles as definições de literatura fantástica, tentando mostrar a relevância dessas narrativas e as vantagens de usá-las como forma de despertar o prazer da leitura. Depois falei um pouco sobre as origens do fantástico na literatura, o que prosseguirá no próximo encontro, em que trataremos do maravilhoso – contos populares e de fadas – e das origens do moderno conto fantástico nos séculos XVIII-XIX.

O terceiro e o quarto dias serão dedicados à literatura especulativa, que a maior parte dos alunos conhece bem menos, mas mesmo assim espero que a receptividade seja tão boa quanto a que obtive no nosso primeiro contato. Eu, que comecei a aula agradecendo àqueles que compareceram a despeito do clima, sou agora ainda mais grata, pelo interesse que demonstraram no que eu tinha a dizer e pela boa-vontade em partilhar leituras e experiências.

A vocês, meus caros – muito, muito obrigada. E... não se esqueçam das leituras para o dia 23!

Abraços a todos,

Ana

sábado, outubro 03, 2009

Nova no Facebook

Pessoas queridas,

Pois é, hoje entrei para o Facebook, atendendo à solicitação do Antonio Luiz Costa, um dos mediadores da comunidade de escritores de fantasia do Orkut. Não sei o que fazer com aquilo, na verdade nem sei como dar conta de administrar tanta coisa, mas enfim... É mais um canal pra vocês me encontrarem se passarem por lá.

E se esse for o caso, sejam bem-vindos!

quarta-feira, setembro 30, 2009


Quero ser como o Mago Merlim
passear no bosque e escutar as cantigas
do vento, voar como as aves
ser o lobo que espreita a caça
oculto nas pedras na noite calada
quero falar com o espirito das fontes
ver tombarem as árvores antigas
ser jovem e ter toda a idade que passa
e ser rei da floresta encantada
Tankred Dorst

segunda-feira, setembro 14, 2009

Memórias da Megafeira

Pessoas Queridas,

Hoje quero falar sobre a Bienal do Livro, que ainda vai até o dia 20 e que eu visitei no sábado, depois de uma viagem de duas horas desde Niterói. A vocês que também foram ou que ainda vão, seja para ver os livros ou tomar parte nos eventos, desejo uma ótima visita, mas a minha... bom, a minha foi mais ou menos, pois o lugar estava tão cheio que mal se podia andar. É claro, eu não tinha a menor pretensão de participar dos encontros ou cafés literários – não dava, pois estava com a minha família – mas esperava mais novidades, mais atividades voltadas para as crianças (havia, mas de uma forma mais restrita, mais “escondida” que em edições anteriores do evento) e sobretudo mais espaço livre, no qual eu pudesse circular sem aquela sensação de estar em meio a uma massa de gente. Por outro lado, não posso deixar de ficar feliz por ver a Bienal tão concorrida, pois isso significa que o livro e a leitura são mais valorizados do que se imagina.

De qualquer forma, minha impressão sobre esta Bienal – e aqui não falo como escritora nem como bibliotecária, apenas como uma voraz leitora e compradora de livros – foi a de que tudo parecia excessivo, e na maior parte do tempo não havia como flanar e curtir as coisas com calma. Desde a apregoada “Floresta de Livros”, onde as crianças mal conseguiam se mover, até os estandes quase sempre apertados e apinhados, tudo contribuía para se ter um ataque de ansiedade. Naturalmente, havia exceções à regra, como o estande das editoras universitárias, o da Martins Fontes – concorrido, mas pelo menos tinha espaço para circulação – e o das Edições SM, onde Marina, minha sobrinha de quinze anos, mais uma vez venceu Luciana no jogo da memória. E as meninas ficaram felizes, uma garimpando os estandes de mangá e a outra completando a coleção da “Fada Pérola” e dos livros do “Menino Maluquinho”. Uma pena ela ter pais de coração tão duro, que não quiseram esperar para pegar um autógrafo do Ziraldo... O que seria, digamos, uma hora e meia na fila para falar com um dos seus ídolos?

Enfim, no cômputo geral, valeu, embora eu tenha jurado para mim mesma que só vou à próxima Bienal se for durante a semana. Aí, talvez dê para andar e aproveitar melhor, e somar novas e doces memórias àquelas que tenho de anos anteriores.

Eu lembro de ter parado, mesmo sem estar acompanhada de uma criança, num estande de contação de histórias, e de lá ter ficado até que Anansi saísse ileso do poço; lembro de Fabiano Salek tocando violão e de Augusto Pessôa na Cozinha Piraquê. Não sei se foi nessa mesma vez, mas lembro da Fernanda, minha sobrinha que hoje está com vinte anos, passando horas numa fila de crianças a fim de que lhe fizessem uma pintura no rosto; seu pai a acompanhou o tempo todo sem se queixar, e eu não consegui deixar de lembrar disso e me sentir culpada por não esperar na fila do Ziraldo.

E na primeira Bienal a que fomos de carro, levando nossos amigos Evandro e Bia, e eu e o Evandro somamos tíquetes para ganhar uma caneca que só podia ficar com um dos dois (e está até hoje comigo).

E na de 2003, Luciana quase bebê ficou com a avó enquanto eu e João íamos ao Riocentro, e eu escrevi um post na Estante Mágica, recém-inaugurada, contando do ótimo dia passado com livros, crepes e café.

E numa outra, ainda mais antiga, em que eu trabalhei no estande da Biblioteca Nacional, toda orgulhosa por pensar que estava fazendo a diferença.

E continuo a pensar, apesar de tudo. E o mesmo em relação à Bienal: ela proporciona a muita gente, adultos e crianças, o ensejo de ter contato com os livros, às vezes o primeiro e decisivo contato.

Talvez, se isso for adiante, o interesse que hoje só se manifesta no evento bi-anual passe a ser uma ação continuada, e as pessoas passem a frequentar livrarias e bibliotecas sem esperar pela megafeira. Quem sabe?

Abraços a todos,

Até a próxima!

segunda-feira, setembro 07, 2009

Sementes

Pessoas queridas,

Enfim, estou de volta. Foi difícil criar coragem para encarar esta página vazia. Ainda agora, com tanta coisa que vem me acontecendo, não sei ao certo se eu devia escrever, ou o que deveria escrever, já que a Estante ainda não conseguiu sair da sua crise de identidade. Ela é um diário pessoal ou uma página de dicas literárias? Um site de artigos e resenhas ou um local de bate-papo? Ou tudo isso junto, como costumava ser no início? Não importa. O que importa é que o círculo continua aberto, mesmo que tenha se reduzido a um diâmetro minúsculo.

Meu microcosmo. É nele que estão acontecendo as maiores mudanças, que já me permitiram plantar algumas sementes para o futuro.

Se são rosas, florescerão.

sábado, julho 04, 2009

De Partida

Pessoas queridas

Estou de partida por um mês... para rever o passaredo pelos portos de Lisboa, como diz a canção.

Mas volto antes da Primavera.

Até breve!!

quarta-feira, junho 17, 2009

Meu Ecomascote



Para quem não sabe, confesso agora: não sou nenhum modelo no que se refere a atitudes ecológicas. Uso saco de plástico adoidado e não separo o lixo. Mas - como os livros que ainda não escrevi - as idéias estão lá. E de vez em quando até pesam na consciência.

Se a doação da minha criatividade pode me redimir um pouco, aqui vai o resultado dos meus esforços: o vencedor do concurso (tendo pais e mães como concorrentes e os alunos como eleitores) para eleger o mascote da Educação Ambiental da escola da Luciana.

O que acham?

segunda-feira, junho 08, 2009

quinta-feira, maio 07, 2009

Mais um poema dos meus 20 anos...

(... só que agora eu tenho mais!)


Presença

Às vezes um espírito me segue.
Eu não o chamaria anjo ou demônio,
consinto apenas que venha e se apegue.

Às vezes, se medito na clareira,
ele brinca entre os troncos, e me espreita.
Sua presença é atenta e companheira.

Às vezes temo que ele me apareça
tal como é; e no meu despreparo
para enfrentá-lo, ele se vá e me esqueça.

Às vezes me pergunto o que seria.
Não sei se ele me ama ou se me odeia,
apenas me observa, noite e dia.

Às vezes, se repouso, sem que eu veja
ele se achega e penetra em meus sonhos
e a um tempo só me atemoriza e beija.

E então eu sinto que a resposta é esta:
quem me acompanha é o Guardião do Dharma,
lembrando o pouco tempo que me resta.

domingo, março 15, 2009

Em Busca da Fonte

Pessoas queridas,

É verdade, faz tempo que não posto aqui, ao passo que a escrita ficcional vai se arrastando num lento e penoso processo. É como a subida de uma trilha íngreme, que demanda mais esforço do que o normal porque você está fora de forma, mas que ainda assim vale a pena vencer. Pela paisagem e pela sensação de plenitude no final.

A trilha é longa e não tenho muito fôlego, mas tenho companhia, principalmente o incentivo que me dão as palavras de mulheres como eu. São escritoras que precisam conciliar as dores e delícias do ofício com aquelas que provêm de suas vidas pessoais: os amores, os filhos, a necessidade de estar ao mesmo tempo em vários lugares e desempenhar tarefas as mais diversas. Além disso, existem as dúvidas, a inquietude tão comum a todas nós e os bloqueios que, vez por outra, nos travam a mente e a mão – e se tudo isso transparece nas entrelinhas dos contos e novelas, a confissão é clara e completa quando se trata de escritos autobiográficos.

Dentre os muitos que li, há três de que gostei especialmente, e dos quais costumo me lembrar quando me faltam o ânimo e a coragem. Os livros não estão à mão, mas aqui vão as idéias centrais, ou pelo menos aquelas com que me identifico... e que me fazem saber que não estou só.

O primeiro depoimento é de Doris Lessing, cuja autobiografia em dois volumes – Andando na Sombra e Debaixo da Minha Pele cobre várias décadas de uma vida dedicada à literatura e ao ativismo político. Num deles – o segundo, possivelmente, pois ela então já era uma autora consagrada – Doris aconselha aos escritores que “jamais procurem a aprovação de um crítico” para seus originais; que um amigo bem-intencionado é uma escolha muito melhor, simplesmente porque se importa com os sentimentos do escritor acerca do valor de seu trabalho. Ou pelo menos foi o que li nas entrelinhas. De qualquer forma, esse é um conselho que eu tento seguir, especialmente porque tenho a sorte de ter amigos que gostam de Literatura... e que, embora possam apontar uns defeitos aqui e ali, quase sempre conseguem me assegurar de que estou contando uma boa história.

E se eu sinto que a história não é tão boa? Nesse caso, recorro a outra escritora: Amy Tan, que em O Oposto do Destino fala francamente sobre os seus "maus começos". Entre seus vários romances de sucesso ela iniciou a escrita de outros tantos, às vezes avançando por dezenas de páginas que, depois, não teve como aproveitar. Reconhecer a fragilidade de um trabalho, principalmente quando já adiantado, e começar do zero são dois atos de coragem, mas necessários ao ofício de escritor – e se uma autora tarimbada como Tan passa por eles, por que não eu?

Agora, uma citação que vem de leitura recente: A Soma dos Dias, uma espécie de segunda autobiografia de Isabel Allende, na qual conta o que aconteceu a ela e a sua extensa família após a morte de Paula. Allende é uma espécie de Mãe-Terra que, tanto quanto em suas atividades literárias, tem que estar envolvida na vida familiar, e tanto se enredou no dia-a-dia que acabou por ver secar o poço da inspiração. Felizmente, foi passageiro - outros livros, inclusive sua impagável e folhetinesca leitura do Zorro, vieram após esse momento - mas ler sobre isso me despertou para o fato de que eu, também, tenho deixado a fonte secar mais do que é admissível, pelos deveres que preciso assumir - ou que assumo, desnecessariamente, por excesso de zelo, mas isso é o que menos importa. O importante é que percebi de repente o quanto minha vida estava se tornando árida, rotineira, desprovida de Magia, mesmo aquela que se encontra nas pequenas coisas. Sem Magia é impossível escrever - e é por isso que estou aqui, tentando fazer com que as fontes voltem a fluir como antes. Não é fácil, mas no fim acho que consigo.

Vocês esperam por mim?

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Pegando no Tranco (1) : Leituras de 2008

Pessoas Queridas,

Espero que o início do ano esteja sendo muito bom para vocês. Da minha parte, estou indo bem, inclusive conseguindo cumprir o meu programa de Resoluções Semanais de Ano Novo. Elas são semanais porque, apesar de eu ter uma lista anual, achei mais fácil ir aos pouquinhos, subdividindo minhas metas para cada semestre, depois trimestre, depois... bom, vocês entenderam.

Então, como parte do meu planejamento para esta semana, aqui vai o primeiro post de 2009 da Estante Mágica. Quebrei um pouco a cabeça pensando no que escrever até me decidir por uma das coisas que mais costumavam agradar a quem me visita: dicas literárias. Estas se referem aos dez livros que mais se destacaram entre os que li em 2008. São todos de ficção, sendo os primeiros cinco de fantasia ou FC e o sexto uma mistura do gênero fantástico com uma literatura mais realista, mas que, pela ambientação histórica, também permite um grande espaço à imaginação. Na verdade, pensando bem, acho que esses últimos livros vão num crescendo, do mais para o menos fantástico e mais ancorado à realidade. Isso não foi intencional, garanto. Mas a essa altura, uma vasculhada no meu subconsciente deve dizer muita coisa.

Então, sem mais delongas... Aqui vão minhas dicas para 2009!

1. O Último Elfo – Silvana de Mari

Temas atuais como a guerra, a fome, a intolerência e – principalmente – o genocídio são habilmente abordados neste livro da italiana Silvana de Mari. O tom, dizem as resenhas, é de fábula, mas para mim se trata de fantasia épica. E uma boa fantasia, na qual os clichês do tipo “ogro mau, elfo bonzinho” não são nem rejeitados nem “maquiados”, mas sim assumidos e reinventados de forma criativa. A história prossegue em “O Último Ogro”, que ainda não li, mas promete ser tão bom ou melhor que o primeiro. Confirmo em breve.

2. J. J. e a Música do Tempo – Kate Thompson

Um livro muito interessante de fantasia para jovens. O protagonista é J. J., um adolescente irlandês que toca numa banda familiar de música tradicional – e que, de repente, percebe que o tempo começou a passar mais rápido, como se vazasse de uma ampulheta. Para resolver o problema ele deve passar por um portal que conduz ao mundo dos imortais, onde o tempo jamais se escoa... e onde, bem ao espírito irlandês, a música é tudo. Vale a pena.

3. Eu Sou a Lenda – Richard Matheson

Publicada juntamente com um conjunto de contos (alguns bons, mas não achei nada fantástico), esta novela é mais instigante, mais pessimista e mais impressionante que sua recente refilmagem, protagonizada por Will Smith. E, embora eu goste de finais felizes, como leitora fiquei mais satisfeita com este.

4. Oryx e Crake – Margaret Atwood

Outro exemplo de distopia – desta vez mais fortemente baseada no uso perverso da ciência e da manipulação genética – este livro não deixa nada a dever aos outros da autora, que aliás já havia se aventurado pelas veredas de um futuro sombrio em “A História da Aia”. Aqui, o (supostamente) último sobrevivente da raça humana tal como a conhecemos recorda cada um dos passos dados pelo gênio que levou o mundo ao colapso – que, não por acaso, é seu amigo de infância.

5. A Criança Roubada – Keith Donohue

Possivelmente o melhor livro que li este ano. Ele trabalha com o mito (será?) dos changelings, crianças que são roubadas por duendes e passam a viver com eles na floresta, ao mesmo tempo que uma das criaturas assume sua forma e sua antiga vida. Aqui, o leitor acompanha a ambos: o menino Henry Day, chamado de “Aniday” por seus novos companheiros, e o duende que tomou seu lugar – e no qual afloram as habilidades e as lembranças provenientes de uma existência ainda mais remota, levando-o, aos poucos, a perceber que ele e seu duplo estão enredados num único círculo. Imperdível!

6. Era uma Vez um Alferes – Mário de Carvalho

Este vem d´além mar, de um autor erudito e talentoso que já nos presenteou com “Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde”. Neste volume há uma novela ambientada na mesma época – a Lusitânia romana – e alguns relatos sobre guerras coloniais, todos bem-escritos e interessantes. A “jóia” do livro, porém, é um conjunto de contos curtos, que eu situaria dentro do realismo mágico e que é protagonizado pelos moradores de um bairro popular – uma espécie de mouraria, cheia de tipos porreiros e onde tudo pode acontecer.

7. Inés de Minha Alma – Isabel Allende

Como eu sou suspeita para falar de Isabel Allende, não vou dizer muita coisa. Apenas que a Inés do título é a amante de Pedro de Valdivia, conquistador espanhol a quem acompanha em sua viagem ao Chile e com quem partilha os primeiros tempos da fundação de Santiago. Uma excelente opção para quem gosta de romances históricos.

8. A Canção da Espada – Bernard Cornwell

A recomendação, na verdade, se aplica a toda a série “Crônicas Saxônicas”, na minha opinião a melhor do autor (“Sharpe” talvez seja boa também, mas eu não li). Este livro, porém, foi melhor de ler do que os outros, com uma narrativa mais ágil e a possibilidade de perceber melhor os nuances do protagonista, Uhtred – um nobre saxão criado pelos dinamarqueses – e a genialidade de seu rei e suserano, Alfredo, de longe meu personagem favorito.

9. A Dama e o Unicórnio – Tracy Chevalier

Quem gostou de “Moça com Brinco de Pérola” não deve perder este romance da mesma autora, tecido (gostaram?) em torno de um dos mais famosos conjuntos de tapeçarias que nos legou o século XV. Nicolas des Innocents, o protagonista, é um personagem interessante, assim como a história de amor e de ambição por trás das tapeçarias, mas o melhor de tudo é o quadro verossímil e perfeitamente nítido da vida dos artesãos da época. Que vontade de estar lá!

10. Aquele Inverno em Leningrado – Helen Dunmore

Os personagens são fictícios, mas a história é verdadeira e muito bem-contada. Os dramas pessoais de Anna, Andrei, Mikhail e Marina se entrelaçam e são contidos no drama maior de toda a população de Leningrado, isolada pela neve e pela guerra durante 900 dias – um episódio já abordado, embora com enfoque mais pessoal, em outro bom livro, “As Madonas de Leningrado”, de Debra Dean.

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Bom, Pessoas... Por enquanto é só. Espero que vocês experimentem alguma (ou várias) destas leituras - ou que já o tenham feito - e que, em ambos os casos, deixem aqui suas impressões. Ainda há muito mais a dizer do que foi possível nestas linhas!

Abraços a todos,

Ana Lúcia