sexta-feira, novembro 18, 2005

Revisitando o "Labirinto"



Oi, Pessoas! Tudo bem?

Fim de ano... compromissos quase todos cumpridos... e agora vou entrando na fase de planejar as coisas para o ano que vem. Ainda não decidi se farei (mais uma) lista de "Resoluções de Ano Novo", mas que elas existem, existem. Uma delas é até mais recente do que isso: pelo meio do ano, eu tinha decidido que ia postar aqui com mais freqüência, mas uma série de circunstâncias me impediu. Vamos ver se consigo retomar o ritmo antigo, do qual eu gostava tanto.

Por falar em "antigo", recentemente comprei uma porção de DVDs de filmes datados de 15 ou 20 anos atrás. São quase todos de fantasia, e alguns deles tiveram um profundo impacto sobre a minha infância e adolescência. Tem os dois filmes do Conan (embora eu não goste do segundo), A Lenda, com Tom Cruise novinho, O Feitiço de Áquila, Excalibur, A Companhia dos Lobos, O Cristal Encantado. E tem, desde semana passada, a edição de colecionador de um dos meus favoritos: Labirinto, de 1986, com direção de Jim Henson e David Bowie no papel de Jareth, Rei dos Duendes.

Ah, como eu curti esse filme na época! Não só por causa dos duendes e da animação, mas porque a história tinha tudo a ver comigo. Para quem não sabe, trata-se de uma adolescente chamada Sarah (interpretada por Jenniffer Connelly) que vive com o pai, a madrasta e o filho de ambos, um bebê fofíssimo, do qual ela tem que cuidar de vez em quando. Sarah é sonhadora, fascinada pelo mundo da fantasia e pela figura do Rei dos Duendes, que ela conhece a partir de um livro chamado, justamente, "Labirinto". Acontece que há uma parte de Sarah que se recusa a crescer: ela não tem domínio sobre suas próprias fantasias. E morre de ciúmes do irmão, a ponto de desejar que os duendes o levem embora para sempre.

Mas, como já dizia a Morgana, das "Brumas de Avalon" (quem leu?), deve-se tomar cuidado com o que se deseja, porque pode ser que a gente consiga. Os duendes levam o bebê para o castelo de seu Rei, que fica atrás de um labirinto cheio de surpresas. E Sarah tem 13 horas para desvendar seu segredo e recuperar o irmão. Claro que ela vai ter a ajuda de alguns dos seres mágicos do Labirinto, e - naturalmente - tudo dá certo no fim. Mas foi justamente o fim o que eu gostei mais, porque, apesar de ter alcançado uma certa maturidade, Sarah não se despede para sempre dos seus amigos do mundo fantástico. Pelo contrário, ela afirma que muitas vezes precisará deles, e o filme termina com uma animada "festinha" no quarto da garota, enquanto o Rei dos Duendes, cumprida sua missão (pois isso era o que ele devia fazer: ajudá-la a crescer sem abrir mão de sua imaginação e de seus sonhos) voa para longe sob a forma de uma coruja branca.

Interpretações posteriores desse filme cavaram fundo nos significados psicológicos e afirmaram que, ao ficar com os amigos do Labirinto, já tendo negado o poder do Rei sobre ela, o que Sarah fez foi deixar no fundo do armário (do seu subconsciente) as partes de si mesma que não saberia controlar. Ela teria aceitado os "bichos" bonzinhos, amigos, ou seja, as criações da sua fantasia que podia admitir livremente, e reprimido o lado mais sombrio, inclusive a sexualidade, que transparece muito bem na cena do baile de máscaras. Essa pode ser uma leitura válida, mas para mim esse aspecto é secundário, talvez porque os "bichos bonzinhos" da minha imaginação são tantos e tão transparentes que mesmo eles eu preciso ter coragem para mostrar. Hoje, aos 36 anos, com todo um mundo de pessoas com as quais eu posso me conectar (mesmo que virtualmente), fica mais fácil expressar minha criatividade. Mas, quando eu tinha 17, não havia muito espaço para contadores de histórias. Eu não tinha ninguém com quem pudesse partilhar as minhas.

Uma outra cena do filme que me marcou muito foi quando Sarah encontra uma duende que é uma espécie de catadora e carregadora de lixo. Ela tem às costas um fardo enorme, um monte de coisas inúteis, e tenta fazer com que Sarah desista de sua busca, acumulando sobre suas costas todos os brinquedos que ela ainda guardava, zelosamente, de sua infância. Só quando reconhece o que é aquilo tudo - lixo - a moça consegue se libertar da carga inútil que a prendia ao passado: não as lembranças, não a bagagem espiritual que, como vimos, a acompanharia ao longo de sua vida adulta, manifestando-se através da imaginação, mas toda a parafernália física e (assim acredito) os resquícios de emoções negativas, como o medo e as culpas, que deviam ser deixados para trás a fim de que ela pudesse seguir em sua busca. Eu sempre penso nisso quando faço a minha famosa "limpeza de primavera".

Acho que já deu para perceber como gostei desse filme, e como fiquei feliz por ter encontrado a edição. Também por partilhar com a Luciana, que adorou a história, os duendes, e que de vez em quando leva a mão ao nariz e diz estar sentindo o cheiro do "Pântano do Fedor Eterno". Também dá para rir com algumas cenas de música e... hum... da maquiagem e das calças do David Bowie. Mas acho que ninguém se importou com isso nos anos 80.

Ei, e vocês? Já viram esse filme? E os outros que eu citei? O que acham do gênero? Pode ser entretenimento, mas muitas vezes é super bem feito, além de divertido. E, para mim, também é material de trabalho, talvez tanto quanto os livros, como pude comprovar nas palestras que andei dando recentemente. Ao explicar para estudantes da oitava série o que é ficção científica, como ninguém tivesse ouvido falar de Júlio Verne ou Asimov, não hesitei em discutir os heróis e vilões de Guerra nas Estrelas. Se a Estante não basta... vem aí, com força total, a Filmoteca Mágica de Ana! ;)

Abraços a todos,

Até a próxima!

Ana Lúcia

P. S. Em seu livro, considerado um must para roteiristas, A Jornada do Escritor, Christopher Vogler faz uma análise maravilhosa dos arquétipos contidos na série Guerra nas Estrelas. Vale a pena.

quarta-feira, novembro 02, 2005

A Biblioteca Fantástica de Wetzlar... e as nossas!

Oi, Pessoas! Tudo bem?

Sem Internet no trabalho e o tempo escasso para as mil e uma atividades em que ando me metendo, passo rapidinho por aqui para compartilhar com vocês a notícia de que a biblioteca dos meus sonhos existe, sim, e fica na Alemanha. Mais precisamente, na cidade de Wetzlar, onde funciona a única biblioteca pública da Europa especializada em Literatura Mágica: a Biblioteca Fantástica.

Tomei conhecimento da existência da Biblioteca ao receber o convite para um workshop de sua diretora, Bettina Twrsnick, acerca da experiência alemã com o incentivo ao hábito da leitura no meio escolar. A oficina aconteceu no dia 27, na Casa Rui Barbosa, e teve patrocínio (e tradução simultânea) da filial carioca do Instituto Goethe.

O site do Instituto disponibilizou o histórico e as informações sobre a Biblioteca Fantástica (que eu vou passar anos com vontade de conhecer, até ir lá um dia. Não duvidem). Da minha parte, o que tenho a relatar é que, além de me divertir com a atividade escolhida por meu grupo ("inventar" um escritor antigo, só recentemente descoberto, escrever sua biografia e um estudo sobre sua obra fictícia), a oficina me proporcionou uma excelente oportunidade para conhecer pessoas que trabalham com a leitura e/ou a narrativa. Isso sem falar na troca de idéias com a Bettina acerca da Literatura Fantástica (também considerada um "gênero menor" na Europa) e dos problemas enfrentados pelas bibliotecas na Alemanha, que são os mesmos daqui, embora num contexto bem diferente. Lá, professores e bibliotecários ganham relativamente bem e o nível de educação da população é muito mais elevado; mas a dificuldade de fazer com que não apenas crianças e jovens, mas o público em geral, se interesse pela leitura é tão grande quanto no Brasil. Nas escolas, em geral, os únicos livros valorizados são os que tratam de assuntos "práticos". E as verbas que destinam ao setor são pequenas em comparação ao investimento feito, por exemplo, na área tecnológica. Enfim... os problemas são os mesmos, só mudam de dimensões e de hemisfério.

Agora, por aqui a gente vai fazendo o que pode. Esta semana, tomou posse o novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Prof. Muniz Sodré, e nossa grande expectativa é que ele procure revitalizar a Casa da Leitura, onde funciona a sede nacional do PROLER. Os cursos e oficinas que aconteciam lá estão fazendo falta. Por outro lado, a Prefeitura do Rio de Janeiro dará início, no dia 5 de novembro, a mais uma edição do Projeto Paixão de Ler, que há treze anos vem mobilizando as bibliotecas e centros culturais da cidade. A programação completa pode ser conferida aqui... e a minha participação, nos dias 7 e 10, aqui ao lado, na Agenda da Estante Mágica.

Espero vocês lá... e, por ora, me despeço. Há muito trabalho a fazer!

Abraços a todos!

Ana Lúcia